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  Novos corpos, velhas leituras U ma mulher negra, de meia-idade, sentada, com um livro nas mãos, em processo de leitura, ou com seus papéis e tecnologias a produzir seus textos, parece incomodar a muita gente, em certos momentos. É diferente a percepção quando estamos em outras atividades laborais, implicadas em servidão, a manusear outras ferramentas. Parece que não temos direito ao descanso, ao isolamento intelectual.   Há uma perversa semântica na amálgama desse corpo negro/mulher/trabalho. Quem já passou pelas experiências acadêmicas do Mestrado e Doutorado, sem licença profissional e cuidando da família, sabe muito bem do que estou falando. Uma mulher negra com uma pilha de livros e papéis em cima de uma mesa, também pode ser considerada uma louca, ou enlouquecerá de tanto estudar. Ocupar o lugar de sujeito da nossa história é algo que desestabiliza a colonialidade das mentes ainda coloniais.   As leituras desse corpo negro intelectual exigem atenção, porq
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  Água das chuvas  Quando eu era criança, tinha muito medo de chuva... Qualquer chuva, mas em especial, daquela que  caía  à noite, com relâmpagos e trovões... Espelhos cobertos, vasilhas aparando as goteiras ... Minha mãe dizia que o trovão era   voz de Deus, zangado, porque fizemos alguma coisa errada. Em silêncio eu Lhe pedia perdão...  e  lutava para o sono não me vencer naquela frágil vigília. Tinha medo de a chuva destelhar a casa e a enxurrada nos levar para longe. Nas noites de chuva,  chorava debaixo do cobertor,  pensando nas pessoas que andavam pelas estradas, sem abrigo. Pensava em meu pai que longe de casa trabalhava, nos trechos, como um servidor público de um departamento de estradas e rodagens. Será que estava molhado? Estava com frio? A impossibilidade de saber notícias sua, naquele momento, aumentava a quantidade das minhas lágrimas e a dor era um  nó  em minha garganta. Chuva memória! Cresci! A chuva continua a me trazer sentimentos tris