Este blog é um refúgio para as palavras loucas que sempre me convidam para com elas bailar
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Elisa Lucinda
Dá Licença, Bastiana?
Vim te pedir, mulher
seu filho um pouquinho
seu filho um cadinho
pra brincar comigo.
Ah, Bastiana é só por carinho
que vim te implorar
Juro! Não vou machucar
Ai, Tiana tá danado
Você pode compreender
eu vim pedir emprestado
esse fruto abusado
de sua enorme paixão
Eu não quero ter ele não
Se tiver posso perder
como já perdi a razão.
Eu vim pedir
teu curumim pra mim
por uns tempos longos por dentro
Quero ele só um pouquinho...
O quê?
Ele diz que pra mim não existe pouquinho?
Mas tá mentindo, Tiana,
você sabe, vou devolver...
Quero fazer com ele um filme pra televisão
Quero ir com ele cantar no Canecão
e a gente vira cinema
na cara de toda Nação
Ai, Bastiana, não diga que não!
Se ele chupou seus peitinhos
eu também quero
Lá em casa tem uma rede que é pra ninar ele
Se ele dormiu no seu colo
eu também quero
Ai, Tiana como te venero!
Parece apelação
mas é mais desespero de nega enfeitiçada
que sente no couro
o que é pedir para si
o filho dos outros.
Já sei:
A gente grava junto um disco
só pra tocar na sua vitrola.
No domingo ele ia pra aí
só pra comer do seu pudim
e molhar a boca na sua galinha ensopada
Eu deixava
Cheia de felicidade
Espalhada na cidade, num grande out-door
Pedindo pros deuses pra que falte dor
Ai, Tiana, open the door, por favor!
Eu até prometia:
a netinha, viria linda um dia
se você tivesse a gentilieza
de me emprestar essa represa
que é onde foi dar o meu coração.
Entenda Tiana:
Não quero tua solidão
e tampouco quero a minha
Essa é a situação.
Mas a culpa é sua!
Quem mandou fazer bem feito?
Os olhinhos puxadinhos
a boca, o umbiguinho.
a mão suave de armarinho
a voz e até o carinho.
Podia até ser caprichosa, mulher
sem precisar exagerar
Mas você passou da dose
fez acabamento
e até na pele ton-sur-ton.
Vim pedir teu filho um cadinho
pra brincar comigo até o sol nascer.
Eu vim pedir o seu.
Um dia vão levar o meu
sem nem pedir, sem nada.
Porque a gente é só mesmo mala
dessa tal criação
dessa tal criatura
e não vês a verdura desse meu olhar?
Ai, Tiana, me desculpe, eu vou entrando...
Me desculpe, eu vou levar.
Ana Paula Tavares
November without water
Olha-me p'ra estas crianças de vidro
cheias de água até às lágrimas
enchendo a cidade de estilhaços
procurando a vida
nos caixotes do lixo.
Olha-me estas crianças
transporte
animais de carga sobre os dias
percorrendo a cidade até aos bordos
carregam a morte sobre os ombros
despejam-se sobre o espaço
enchendo a cidade de estilhaços.
(O lago da lua)
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
A insustentável leveza de ser
A insustentável leveza de ser
Ultimamente, em especial no campo da violência, a ficção tem mantido constante dialogo com a realidade.Não se sabe ao certo onde uma começa e onde a outra termina. Nesta semana que ora se finda, graças a Deus,uma das cenas da novela "Mulheres apaixonadas",de Manoel Carlos, em reprise nas tardes globais, chamou a minha atenção pela sua pertinência com o drama vivido por Eloá e outras adolescentes que, na seqüência daquele fato, também tiveram sua vidas ceifadas.Vítimas do mesmo motivo: a incapacidade dos algozes de aceitarem o fim de um relacionamento.
Na ficção, Helena e Téo estão nesse processo de desligamento conjugal. Os dois conversam amigavelmente. Ele fala da oposição entre os primeiros tempos de uma convivência, quando os casais se buscam motivados por uma paixão em comum. Entretanto, no sentido inverso ao início do percurso,quando o tesão desaparece, geralmente desaparece apenas para um dos participantes da caminhada. Esse é o problema, e a impossibilidade daquele de se “libertar” pode definir o casamento doravante, como um “cárcere privado”. Há vários tipos de “cárceres”. Os crimes passionais falam por si.
Penso nos diversos casais que, reféns, vivem juntos numa solidão a dois,durante anos e anos.Com o tempo,os limites de locomoção instalam-se, a começar, pela separação dos quartos. Olham-se, mas não se vêem, conversam, mas não se escutam. Onde está a porta de saída? Algumas portas são protegidas por “barricadas” representadas pelos filhos, os bens móveis e imóveis ou simplesmente pela ausência da atitude. Espera-se que apareça um(a) salvador(a), para o bem ou para o mal daquela relação.
Não raro, alguns reféns têm se deslocado para mundos paralelos em busca de uma saída. Um escape, hoje transmutado em espaço virtual, onde se pode viver a “quase” sensação de felicidade visual, auditiva, mas nunca um toque. Alguns percebem, depois, que criaram apenas mais uma grade, pois, a depender do contexto, a impossibilidade geográfica pode transformar a ânsia por um abraço em algo mais sublime que o sexo em si. Outra questão é que, esses amores, por se aparentarem impossíveis, se tornam perfeitos. Inesquecíveis.
A palavra cônjuge pode ser compreendida como “aquele que compartilha o jugo”.Assim fica mais fácil entender, ao se discutir a relação, o alcance da expressão “não estou segurando essa barra”. Todos temos o nosso jugo. A questão não é encontrar quem queira conosco compartilhá-lo, de preferência com o equilíbrio, condição básica para o bem-estar de ambos, mas buscar dentro de si a força necessária para levá-lo consigo, sozinho. O Outro é apenas o companheiro de viagem, por breve ou por duradouro tempo. O que pode tornar aquela tarefa mais leve, ou mais pesada, é a hora em que um dos viajantes "pede para sair".
Por
Teca Santos
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Mulheres na História
Maria Felipa de Oliveira
Conheça um pouco mais a respeito dessa heroína cujo nome na história da Independência da Bahia tem pouca visibilidade.
Conheça um pouco mais a respeito dessa heroína cujo nome na história da Independência da Bahia tem pouca visibilidade.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
À Jacinta Passos
Meu Sonho
O meu sonho
mais risonho
é suave e pequenino
resumindo entretanto o meu destino.
É de cor azul sonora
como o mar que longe chora.
É cor de infinito e de ânsia,
cor de céu, cor do mar, cor de distância.
Tem a leve suavidade
da saudade.
E a cantante doçura
de um regato que murmura.
Macio e encantador
É caricia de pluma e perfume de flor.
O meu sonho
mais risonho,
é para mim, cada momento:
o motivo maior de doce encantamento.
À Carolina
Talvez vocês ainda não conheçam essa grande escritora, por isso ela aqui se apresenta. Vale a pena conhecer sua escrita visceral, como também, refletir sobre seu discurso, infelizmente,ainda atualizado. Seu livro "Quarto de Despejo" ,entre outros,fala por si.
Voz feminina
À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor sincera e desordenada...
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,
vás por essa noite fora...
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua...
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Florbela Espanca
Os versos que te fiz
Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto !
E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.
sábado, 18 de outubro de 2008
Cristiane Sobral
NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS
Não vou mais lavar os pratos.
Nem
limpar a poeira dos móveis.
Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um
livro e uma semana depois decidi.
Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem
arrumo mais a bagunça das folhas no quintal.
Sinto muito. Depois de ler
percebi a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética, a estática.
Olho minhas mãos bem mais macias que antes e sinto que posso começar a ser a
todo instante.
Sinto.
Agora sinto qualquer coisa.
Não vou mais lavar
os tapetes.
Tenho os olhos rasos d'água.
Sinto muito. Agora que comecei
a ler quero entender o por quê, por que e o por quê.
Exintem coisas. Eu li,
e li, e li... Eu até sorri e deixei o feijão queimar.
E olha que feijão
sempre demora para ficar pronto...
Considere que os tempos agora são
outros...
Ah, esqueci de dizer: não vou mais.
Resolvi ficar um tempo
comigo.
Resolvi ler sobre o que se passa conosco.
Você nem me espere,
você nem me chame. Não vou.
De tudo o que jamais li, de tudo o que entendi,
você foi o que passou. Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto.
Desalfabetizou. Não vou mais lavar as coisas e encobrir as sujeiras inteiras,
nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para ali e de lá para cá.
Desinfetarei minhas mãos.
Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a
ler.
Sendo assim não lavo mais nada e olho a poeira no fundo do copo. Vejo
que sempre chega o momento de sacudir, de investir, de traduzir.
Não lavo
mais os pratos.
Li a assinatura de minha lei áurea.
Escrita em negro
maiúsculo, em letras tamanho 18, espaço duplo.
Aboli.
Não lavo mais os
pratos.
Quero travessas de prata, cozinha de luxo e jóias de ouro.
Legítimas.
Está decretada a Lei Áurea.
Não vou mais lavar os pratos.
Nem
limpar a poeira dos móveis.
Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um
livro e uma semana depois decidi.
Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem
arrumo mais a bagunça das folhas no quintal.
Sinto muito. Depois de ler
percebi a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética, a estática.
Olho minhas mãos bem mais macias que antes e sinto que posso começar a ser a
todo instante.
Sinto.
Agora sinto qualquer coisa.
Não vou mais lavar
os tapetes.
Tenho os olhos rasos d'água.
Sinto muito. Agora que comecei
a ler quero entender o por quê, por que e o por quê.
Exintem coisas. Eu li,
e li, e li... Eu até sorri e deixei o feijão queimar.
E olha que feijão
sempre demora para ficar pronto...
Considere que os tempos agora são
outros...
Ah, esqueci de dizer: não vou mais.
Resolvi ficar um tempo
comigo.
Resolvi ler sobre o que se passa conosco.
Você nem me espere,
você nem me chame. Não vou.
De tudo o que jamais li, de tudo o que entendi,
você foi o que passou. Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto.
Desalfabetizou. Não vou mais lavar as coisas e encobrir as sujeiras inteiras,
nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para ali e de lá para cá.
Desinfetarei minhas mãos.
Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a
ler.
Sendo assim não lavo mais nada e olho a poeira no fundo do copo. Vejo
que sempre chega o momento de sacudir, de investir, de traduzir.
Não lavo
mais os pratos.
Li a assinatura de minha lei áurea.
Escrita em negro
maiúsculo, em letras tamanho 18, espaço duplo.
Aboli.
Não lavo mais os
pratos.
Quero travessas de prata, cozinha de luxo e jóias de ouro.
Legítimas.
Está decretada a Lei Áurea.
Elizabeth Bishop
One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
Assinar:
Postagens (Atom)
A Casa de D. Tiana!
É comum ouvirmos, em relação à escola, essa frase;" é a minha segunda casa". Não discordo, cada um...
-
ASHELL,ASHELL PRA TODO MUNDO, ASHELL Elisa Lucinda Ela mora num Brasil mas trabalha em outro Brasil Ela, bonita...saiu.Perguntaram: Você que...
-
Primeiramente, nos anos 70 , a mercearia ficava ali na rua Potiraguá, se localizava na esquina com a minha rua Itaberaba, depois, mudou-se p...
-
É comum ouvirmos, em relação à escola, essa frase;" é a minha segunda casa". Não discordo, cada um...