A insustentável leveza de ser


A insustentável leveza de ser

Ultimamente, em especial no campo da violência, a ficção tem mantido constante dialogo com a realidade.Não se sabe ao certo onde uma começa e onde a outra termina. Nesta semana que ora se finda, graças a Deus,uma das cenas da novela "Mulheres apaixonadas",de Manoel Carlos, em reprise nas tardes globais, chamou a minha atenção pela sua pertinência com o drama vivido por Eloá e outras adolescentes que, na seqüência daquele fato, também tiveram sua vidas ceifadas.Vítimas do mesmo motivo: a incapacidade dos algozes de aceitarem o fim de um relacionamento.

Na ficção, Helena e Téo estão nesse processo de desligamento conjugal. Os dois conversam amigavelmente. Ele fala da oposição entre os primeiros tempos de uma convivência, quando os casais se buscam motivados por uma paixão em comum. Entretanto, no sentido inverso ao início do percurso,quando o tesão desaparece, geralmente desaparece apenas para um dos participantes da caminhada. Esse é o problema, e a impossibilidade daquele de se “libertar” pode definir o casamento doravante, como um “cárcere privado”. Há vários tipos de “cárceres”. Os crimes passionais falam por si.

Penso nos diversos casais que, reféns, vivem juntos numa solidão a dois,durante anos e anos.Com o tempo,os limites de locomoção instalam-se, a começar, pela separação dos quartos. Olham-se, mas não se vêem, conversam, mas não se escutam. Onde está a porta de saída? Algumas portas são protegidas por “barricadas” representadas pelos filhos, os bens móveis e imóveis ou simplesmente pela ausência da atitude. Espera-se que apareça um(a) salvador(a), para o bem ou para o mal daquela relação.

Não raro, alguns reféns têm se deslocado para mundos paralelos em busca de uma saída. Um escape, hoje transmutado em espaço virtual, onde se pode viver a “quase” sensação de felicidade visual, auditiva, mas nunca um toque. Alguns percebem, depois, que criaram apenas mais uma grade, pois, a depender do contexto, a impossibilidade geográfica pode transformar a ânsia por um abraço em algo mais sublime que o sexo em si. Outra questão é que, esses amores, por se aparentarem impossíveis, se tornam perfeitos. Inesquecíveis.


A palavra cônjuge pode ser compreendida como “aquele que compartilha o jugo”.Assim fica mais fácil entender, ao se discutir a relação, o alcance da expressão “não estou segurando essa barra”. Todos temos o nosso jugo. A questão não é encontrar quem queira conosco compartilhá-lo, de preferência com o equilíbrio, condição básica para o bem-estar de ambos, mas buscar dentro de si a força necessária para levá-lo consigo, sozinho. O Outro é apenas o companheiro de viagem, por breve ou por duradouro tempo. O que pode tornar aquela tarefa mais leve, ou mais pesada, é a hora em que um dos viajantes "pede para sair".

Por

Teca Santos

Comentários

  1. Maravilhoso Terezinha,

    Não apenas a mensagem passda, mas também todo este conteúdo e apresentação. Eu adorei o que vi
    PARABÉNS
    BJSSSS Rita Arouca

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  2. Obrigada,querida, pelo carinho e sensibilidade.Bjos.

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  3. Muito bom querida!Como tudo que você coloca seu poderoso dedinho;Adorei todo o conteúdo do blog,vai me esclarecer muito.Bjs,Bel

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  4. "Compartilhar o jugo" é para poucos!! Bela reflexão, cheinha de verdades e sensibilidade!! 👏🏼👏🏼👏🏼

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