sexta-feira, 17 de abril de 2009





ASHELL,ASHELL PRA TODO MUNDO, ASHELL


Elisa Lucinda




Ela mora num Brasil
mas trabalha em outro Brasil
Ela, bonita...saiu.Perguntaram: Você quer vender bombril?
Ela disse não.
Era carnaval.Ela, não-passista, sumiu
Perguntaram: empresta tuas pernas, bunda e quadris para um clip-exportação?
Ela disse não.
Ela dormiu. Sonhou, penteando os cabelos sem querer
se fazendo um cafuné sem querer
Perguntaram: você quer vender henê?
Ela disse nãâãão.
Ficou naquele não durmo não falo não como...
Perguntaram: você quer vender omo?
Ela disse NÂO.
Ela viu um anúncio da cõnsul para todas as mulheres do mundo...
Procurou, não se achou ali. Ela era nenhuma.
Tinha destino de preto.
Quis mudar de Brasil: ser modelo em Soweto.
Queria ser realidade.Ficou naquele ou eu morro ou eu luto...
Disseram: Às vezes um negro compromete o produto.
Ficou só. Ligou a TV
Tentou achar algum ponto em comum entre ela e o free:
Nenhum.
A não ser que amanhecesse loira, cabelos de seda shampoo
mas a sua cor continua a mesma!
Ela sofreu, eu sofri, eu vi.
Pra fazer anúncio de free, tenho que ser free, ela disse.
Tenho que ser sábia, tinhosa, sutil...
Ir à luta sem ser mártir.
Luther marketing
Luther marketing...in Brasil.

2 comentários:

  1. Esse poema nos leva a tantas reflexões sobre ser mulher e negra no Brasil. Eu ainda não o conhecia.
    Parabéns e obrigada pela postagem.

    ResponderExcluir

A Casa de D. Tiana!

                              É comum ouvirmos, em relação à escola, essa frase;" é a minha segunda casa".   Não discordo, cada um...