Essa questão, por um bom tempo, ocupou a minha mente, ali, "apertando" meus pensamentos, numa interlocução íntima. Tal dilema ocorreu após um comentário de um amigo acerca dos meus sentimentos, à epóca, pela morte do ator Domingos Montagner. "Todo dia morre gente", disse-me.Fato. Argumento poderoso, porque a finitude do fôlego é nossa isonomia biológica. Força maior.Diante daquela incontestável observação, meu sentimento de perda cedeu lugar ao alheamento,à ruminância filosófica. Sim, meu amigo, todo dia morre gente, mas, quando a"indesejada" nos leva alguém do nosso apreço, ela nos leva pessoas. Essas colocaram sinais de pontuação em nossa história, logo, sem elas, nossa narrativa não seria um texto coesivo. Gente, não. Gente é a parte ordinária que nos coletiviza...é a massa ambulante, impessoal. Pessoas habitam a parte mais sensível da nossa memória. De alguma forma, estão implicadas em nossas emoções, das mais leves às mais profundas, às mais caras. Pessoas são fios que nos ligam nesse Universo, antes de nossa chegada e, após nossa partida. São seres presentes ou ausentes, mas nunca separados, porque, basta um pensamento para trazê-los perto. Todo dia morre gente, mas, na leitura do obituário cotidiano, os nomes ali constantes, enquanto para muitos são estatísticas, para outros, são substantivos próprios pranteados na despedida e na dor expressa na primeira pessoa dos pronomes possessivos. Subjetividades. Todo dia morrem acervos afetivos. Lamento íntimo, ad infinitum.
Ao meu irmão, João Oliveira Santos, ao meu pai, Argemiro Anjo dos Santos, à minha avó, Maria Carolina dos Santos,in memoriam.