terça-feira, 21 de agosto de 2018

                 De uma fã, com amor!




o sou dessas fãs que, enlouquecidas, gritam, desmaiam quando podem ver seus ídolos /ídolas  no mundo real, ali no palco, ou alhures. Não. Não sou! Preciso repetir essa negação que, paradoxalmente, traz em si uma afirmação. Portanto, estou mentindo. Minhas lembranças me traem, pois me comportei daquela maneira quando tive o prazer de, certa ocasião,  assistir a um show de Emílio Santiago, na Concha Acústica, em Salvador.

A emoção de estar pertinho do artista, cuja voz tocava fundo a  minh’ alma, acelerou meu coração, arrancou gritos da minha garganta, num frenesi de libertação e entrega. Obrigada, meu querido Emílio,  que tão cedo partiu para o Orum. Agradeço-lhe por despertar em mim a empatia e a solidariedade com aquelas e aqueles que têm a coragem de querer bem e, nesse bem querer, se permitirem a um instante de felicidade na artística presença e potência do Outro.

Atualmente, meus afetos estão partilhados entre três atores brasileiros: José Dumont, Irandhir Santos e Caco Ciocler. Não sei muito sobre os mesmos, enquanto homens ordinários. Não sou de ficar vasculhando suas vidas. Gosto. Gosto e admiração se confundem e tenho interesse por tudo que a eles dizem respeito, enquanto atores. José Dumont é um artista que traz em si uma força bruta como uma essência, a ponto da personagem e ator se confundirem, em especial, quando ele interpreta o sertanejo,  sua mais recorrente atuação, o que colabora para ator/personagem e paisagem mesclarem-se poeticamente. 

Seu último trabalho, em Onde nascem os fortes, foi para mim a sua mais bela metáfora com a interpretação de   Tião das Cacimbas e suas frases (des)conexas, mas não posso esquecer da personagem amarga, animalesca,  a fabricar e comercializar  rapadura na dura caatinga, no filme Abril Despedaçado. Poderia enumerar mais e mais trabalhos do Dumont, mas seria como andar em círculos. 

Meu segundo favorito é o Irandhir.  Gosto de Irandhir Santos pela calma do seu olhar. Sua expressão visual, independente da personagem, transborda uma ideia de tempo, como a água que lentamente move o moinho.  Há na sua essência uma sensualidade que está ali,  mas finge-se imperceptível, o que a acentua e imprime ao ator  um charme especial.  Entre seus inúmeros trabalhos artísticos, tenho carinho especial por Zelão, em Meu pedacinho de chão, representação que melhor o traduz no meu imaginário.


Caco Ciocler  é um dos meus preferidos, há muito. Gosto da sua versatilidade...das suas reinvenções para compor personagens. Gosto também do seu olhar e do sorriso que se inicia nos olhos e se espalha pelo rosto, ampliando sua beleza serena, escamoteada. Na cena da novela Segundo Sol, no capítulo de ontem, vi seu personagem, o Edgar,  transbordar-se em choro, mas um choro interno, um choro que, soluçado em engasgos,  revelava o  homem impotente diante das vicissitudes. A cena refletia muito de nós, brasileiras e brasileiros, nessa realidade caótica diante dos noticiários cotidianos e fatos circundantes. 

Portanto, esse é o trio de homens cujos nomes levam-me a assistir a qualquer produção na qual eles apareçam. Se um dia gostaria de encontrar-me com um deles? Não. E esse "não" significa dizer que a minha admiração é destinada ao que eles representam no meu imaginário afetivo e esse não tem nenhuma obrigação com a realidade, além do mais, concordando com o filósofo espanhol, Miguel de Unamuno, “que bela é uma laranja, antes de ser comida”. É isso. Quero apenas contemplá-los. Assim.


Terezinha Oliveira Santos. 21/08/2018


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O "Big Brother" e a vida!



Na aula de hoje, com a turma de Agronomia/Medicina Veterinária, entre tantas discussões, falamos sobre o Carnaval de Salvador a partir de um desabafo que fiz, quando afirmei o quanto fico “retada” ao ouvir que “baiano é preguiçoso”. Tratamos desses estereótipos, antes de começarmos a leitura, tendo como objeto de estudo o artigo de opinião “Cultura da Paz”, de Leonardo Boff. E assim, seguiu a aula, com exemplos de poder e dominação,  quando o programa Big Brother surgiu como um exemplo das porcarias que a Rede Globo oferece ao telespectador. Ouvi. E, após as falas, coloquei-me dizendo que não perdia aquele, que sempre que podia, estava lá, assistindo, vivenciando. Um aluno me disse, com cara de espanto: - A senhora é a primeira professora, daqui, que diz gostar do programa. Reafirmei que gostava e fui explicar o porquê.

Independente de saber que sua criação é inspirada no livro 1984, de George Orwell, vejo o entretenimento como uma metáfora da vida. Faço minhas analogias a partir das suas etapas: Participantes são selecionados e passam um tempo em confinamento. Podemos comparar essas ações com a concepção e o período de gestação a que estamos submetidos. Depois, num dia determinado, todos adentram a casa, individualmente, abrindo uma porta, o arquétipo da transposição, o nascimento,  e assim, inauguram com suas presenças o lugar onde viverão experiências, ora coletivamente, ora individuais. Por que é um jogo? Ora, porque, como diz Fernando Pessoa, o poeta português, “a única certeza é que não há certeza”. Ok! Você pode afirmar que há manipulação.Concordo, na vida, também pois, todos nossos planos precisarão do aval do ser superior. Tudo dará certo, se Deus quiser. Bom, se você for ateu, pode dizer que tudo está a cargo do Universo...de qualquer modo, você não controla zorra nenhuma. 

Dando continuidade ao meu raciocínio, lá no jogo, alguém se torna líder...experimenta as relações de poder mais de perto, vê quem lhe cerca com bajulações, quem lhe teme... e o medo é um dos mais fortes elementos de controle sobre alguém. O poderoso nutre-se desse sentimento, alimenta seu ego e, ao condenar alguém ao paredão, condena também a si mesmo. De novo, o medo. Então, é o medo que nos impele. E aqui trago um trecho de um discurso de Mia Couto, escritor moçambicano, em sua fala na Conferência de Estoril, em 2011, quando em sua citação de Eduardo Galeano, nos diz: "Os que trabalham têm medo de perder o trabalho; os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho; quando não têm medo da fome têm medo da comida; os civis têm medo dos militares; os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras. "E, se calhar, acrescento agora eu: há quem tenha medo que o medo acabe". 

Na cultura do medo, dentro do jogo, “os anjos” funcionam como seres que ajudarão os participantes, como um lenitivo, um bálsamo. Uma blindagem. No discurso judaico-cristão, temos nossos anjos da guarda. E temos as contradições. Anjos e monstros, o bem e o mal, as mentiras e as verdades, o amor e o ódio. Enfim,  a dualidade que nos acompanha vida a fora, além do  post-mortem, com seu céu/inferno, salvação/condenação. Ao final, alguém sairá com o prêmio. Será então o campeão do jogo. Ganhará. E aqui, precisamos refletir acerca do conceito dessa palavra. O que é ganhar? Para ganhar o que você perdeu? Ora, se faço a comparação do jogo com a vida, se a porta de entrada é a transposição para a vida, ao sair da casa, são vivos ou mortos? 

Saída. A luta agora é pela reencarnação.Com todo respeito à religião. Preciso dessa analogia para ilustrar a busca pela fama, pela continuidade da fama.  Alguns "voltam", numa novela, num programa qualquer, mas sempre ligados à vida passada, como um estigma. Em relação ao vencedor, se no pensamento filosófico, nenhum homem se banha duas vezes na água do mesmo rio, pois já não é o mesmo curso d´água, nem o sujeito é o mesmo, logo, independente de ser agora um milionário, esse campeão precisará se reinventar, renascer, agora, com medo de que o dinheiro acabe. Sendo assim, sob o signo do medo, o jogo continua. É a vida, em sua dialética. 

Profª Drª Terezinha Oliveira Santos
Com agradecimentos à Turma 01 de Oficina de Leitura e Produção de Textos Acadêmicos- Universidade Federal do Oeste da Bahia
Centro Multidisciplinar Campus de Barra.
Aula - 06/02/2018

@bigbrotherbrasil

@bbb24



A Casa de D. Tiana!

                              É comum ouvirmos, em relação à escola, essa frase;" é a minha segunda casa".   Não discordo, cada um...