De uma fã, com amor!




o sou dessas fãs que, enlouquecidas, gritam, desmaiam quando podem ver seus ídolos /ídolas  no mundo real, ali no palco, ou alhures. Não. Não sou! Preciso repetir essa negação que, paradoxalmente, traz em si uma afirmação. Portanto, estou mentindo. Minhas lembranças me traem, pois me comportei daquela maneira quando tive o prazer de, certa ocasião,  assistir a um show de Emílio Santiago, na Concha Acústica, em Salvador.

A emoção de estar pertinho do artista, cuja voz tocava fundo a  minh’ alma, acelerou meu coração, arrancou gritos da minha garganta, num frenesi de libertação e entrega. Obrigada, meu querido Emílio,  que tão cedo partiu para o Orum. Agradeço-lhe por despertar em mim a empatia e a solidariedade com aquelas e aqueles que têm a coragem de querer bem e, nesse bem querer, se permitirem a um instante de felicidade na artística presença e potência do Outro.

Atualmente, meus afetos estão partilhados entre três atores brasileiros: José Dumont, Irandhir Santos e Caco Ciocler. Não sei muito sobre os mesmos, enquanto homens ordinários. Não sou de ficar vasculhando suas vidas. Gosto. Gosto e admiração se confundem e tenho interesse por tudo que a eles dizem respeito, enquanto atores. José Dumont é um artista que traz em si uma força bruta como uma essência, a ponto da personagem e ator se confundirem, em especial, quando ele interpreta o sertanejo,  sua mais recorrente atuação, o que colabora para ator/personagem e paisagem mesclarem-se poeticamente. 

Seu último trabalho, em Onde nascem os fortes, foi para mim a sua mais bela metáfora com a interpretação de   Tião das Cacimbas e suas frases (des)conexas, mas não posso esquecer da personagem amarga, animalesca,  a fabricar e comercializar  rapadura na dura caatinga, no filme Abril Despedaçado. Poderia enumerar mais e mais trabalhos do Dumont, mas seria como andar em círculos. 

Meu segundo favorito é o Irandhir.  Gosto de Irandhir Santos pela calma do seu olhar. Sua expressão visual, independente da personagem, transborda uma ideia de tempo, como a água que lentamente move o moinho.  Há na sua essência uma sensualidade que está ali,  mas finge-se imperceptível, o que a acentua e imprime ao ator  um charme especial.  Entre seus inúmeros trabalhos artísticos, tenho carinho especial por Zelão, em Meu pedacinho de chão, representação que melhor o traduz no meu imaginário.


Caco Ciocler  é um dos meus preferidos, há muito. Gosto da sua versatilidade...das suas reinvenções para compor personagens. Gosto também do seu olhar e do sorriso que se inicia nos olhos e se espalha pelo rosto, ampliando sua beleza serena, escamoteada. Na cena da novela Segundo Sol, no capítulo de ontem, vi seu personagem, o Edgar,  transbordar-se em choro, mas um choro interno, um choro que, soluçado em engasgos,  revelava o  homem impotente diante das vicissitudes. A cena refletia muito de nós, brasileiras e brasileiros, nessa realidade caótica diante dos noticiários cotidianos e fatos circundantes. 

Portanto, esse é o trio de homens cujos nomes levam-me a assistir a qualquer produção na qual eles apareçam. Se um dia gostaria de encontrar-me com um deles? Não. E esse "não" significa dizer que a minha admiração é destinada ao que eles representam no meu imaginário afetivo e esse não tem nenhuma obrigação com a realidade, além do mais, concordando com o filósofo espanhol, Miguel de Unamuno, “que bela é uma laranja, antes de ser comida”. É isso. Quero apenas contemplá-los. Assim.


Terezinha Oliveira Santos. 21/08/2018


Comentários

  1. Três grandes atores, Irandhir o atual queridinho do cinema, se renovando e inovando. José Dumont como diz Jair é "o povo" do Cinema Brasileiro. Gosto também do Caco, embora em uma peça que assisti com ele não tenha sido exatamente brilhante, mas era estreia, e nem ele nem Ravache (a Irene, que com ele contracenava) são imunes a isso.
    Mas é como dizes, gostamos porque gotamos, ou como diria Pessoa, "porque sou rei absoluto na minha simpatia, basta que ela exista para que tenha razão de ser."

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